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ONDE A CRISE NUNCA CHEGA: MAIORES BANCOS DO PAÍS LUCRARAM R$ 26 BI SÓ NO 1º TRIMESTRE

Apenas os três principais bancos privados tiveram crescimento de 47% sobre igual período do ano passado. Apesar do lucro, 8,6 mil empregos foram eliminados (Por Vitor Nuzzi, da RBA) – 

O setor financeiro vem passando ileso por mais uma crise, palavra que se reflete apenas no fechamento de agências e postos de trabalho. Os cinco maiores bancos do país somaram R$ 26,4 bilhões de lucro líquido só no primeiro trimestre. No setor privado, Bradesco, Itaú e Santander acumularam R$ 16,9 bilhões, crescimento médio de 46,9% ante igual período de 2020. O lucro da Caixa cresceu 50,3% e o do Banco do Brasil, 44,7%.

No caso do Bradesco, o lucro líquido teve salto de 73,6% na comparação com os três primeiros meses do ano passado e chegou a R$ 6,515 bilhões. Nesse mesmo intervalo, o banco eliminou 8.547 vagas, fechou 1.088 agências e abriu 700 unidades de negócios, lembra a subseção do Dieese. Ao final de 2020, eram 89.575 empregados, número já 8% menor que o do ano anterior.

“Forte retomada”
Apesar de toda a crise, o Bradesco demonstrou otimismo ao divulgar seus resultados trimestrais, falando em “forte retomada” da atividade. “O agravamento da pandemia impactou negativamente o PIB entre março e abril deste ano. Antes disso, os dados mostravam forte retomada da economia, indicando o que devemos esperar quando as restrições diminuírem”, diz o banco. Ainda segundo a instituição, a vacinação – que segue em ritmo lento – “está ganhando tração” no país e deverá contribuir para esse processo nos próximos meses.

Já o Itaú teve aumento um pouco menor, mas expressivo, de 63,6% sobre 2020, e registrou lucro de R$ 6,4 bilhões. Enquanto o Santander registrou crescimento de 4,1% sobre o primeiro trimestre do ano passado, e atingiu recorde de R$ 4,012 bilhões.

Apesar de lucro, bancos cortam 8,6 mil vagas
Ainda assim, lembra o Dieese, o setor continua demitindo. Apenas esses três bancos fecharam 8.625 vagas. “E a redução de postos poderia ser ainda maior, não fosse o Itaú apresentar seus números considerando os funcionários de uma empresa que comprou (Zup, da área de tecnologia, adquirida em 2019). Na verdade, não são novos empregos”, afirma dirigente sindical Mario Raia.

Com isso, o Itaú fechou o trimestre com 84.415 funcionários na holding, 2.308 a mais em 12 meses, com incorporação de pessoal da Zup a partir do segundo trimestre de 2020. O Santander tinha 44.806, 2.386 a menos, além do fechamento de 140 agências e 91 Postos de Atendimento Bancário.

Serviços e tarifas
A receita do Santander com prestação de serviços e tarifas cresceu 8,3%, enquanto os gastos com pessoal caíram 4,4%. No Itaú, que fechou 115 agências em 12 meses, essa mesma receita foi 59,8% maior que as despesas com funcionários.

“É um resultado muito expressivo para um ano de pandemia e com um cenário econômico tão delicado no país”, diz a economista Vivian Machado, do Dieese, referindo-se aos resultados financeiros. “A verdade é que os bancos nunca pararam de lucrar alto. Os crescimentos divulgados para este primeiro trimestre são comparados a números rebaixados artificialmente pelos bancos com provisões estrondosas no ano passado”, acrescenta Raia.

Baixa inadimplência
Ele observa que, em 2020, os bancos, receando calote, fizeram provisões para dívidas duvidosas (PDD). “Os índices de inadimplência estavam e continuaram muito baixos. As provisões acabaram maquiando o grande lucro que eles tiveram no ano passado, assim como tiveram este ano, mostrando, mais uma vez, que os bancos, com crise, ou sem ela, lucram muito.”

O Santander informou, no balanço, que os índices de inadimplência, tanto de pessoa física como jurídica , seguem em “níveis confortáveis”. Os dados do Bradesco mostram taxas próximas às do ano passado – e abaixo de 2019.

Caixa e BB
Na semana passada, a Caixa Econômica Federal, único banco a contratar neste ano, divulgou o balanço do primeiro trimestre, reportando lucro líquido de R$ 4,6 bilhões, crescimento de 50,3% sobre igual período do ano passado. Isso foi o suficiente para o presidente da República divulgar informação falsa, afirmando que “lá atrás” o banco dava prejuízo.

“Em diversas ocasiões ele disse que não entende nada de economia. Por isso, não podemos nos espantar com esse erro grotesco”, afirma a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt. “Ainda mais que ele, com toda sua ignorância econômica, é influenciado por declarações do presidente da Caixa (Pedro Guimarães), que espalha informações incorretas para exaltar sua própria gestão”, acrescenta. “Ele compara os valores absolutos do lucro nominal, sem trazer os números a valor presente. Fazer a comparação desta forma é, no mínimo, má fé. ”

Em entrevista, Guimarães destacou a importância da Caixa no pagamento de programas sociais. “Mas, se a Caixa consegue obter tamanho lucro e ainda dá tamanha contribuição ao país, por que o governo está fatiando para vendê-la a troco de bananas?”, questiona Fabiana, citando a recente abertura de capital (IPO) da Caixa Seguridade. “É uma área do banco altamente lucrativa e em crescimento. que está sendo dada de mão beijada à iniciativa privada.”

Segundo levantamento feito pelo Dieese, a Caixa teve lucro nos últimos 18 anos. Segundo o instituto, foram R$ 39,7 bilhões durante o governo Lula (2003-2010), R$ 51 bilhões no governo Dilma (2011-2016) e R$ 25,4 bilhões no governo Temer (2017-2018). Em 2019 e 2020, o lucro acumulado foi de R$ 35,1 bilhões. Este montante, contudo, inclui valores decorrentes da venda de ativos, e as atividades fim da instituição tiveram baixo impacto nos resultados, conforme reportagem do site Reconta Aí.

Acima do previsto
Por fim, o Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado (que exclui itens extraordinários) de R$ 4,913 bilhões. Valor acima das estimativas de analistas e 44,7% maior que o de igual período de 2020. O retorno sobre o patrimônio líquido, indicador da lucratividade dos bancos, também cresceu. Em 12 meses, conforme aponta o Dieese, o número de clientes (o que inclui correntistas, poupadores e beneficiários do INSS), cresceu em 3,7 milhões. Mas a estrutura para atendê-los diminuiu: o BB fechou 279 agências e cortou 4.881 postos de trabalho. As medidas causaram crise no governo.

“Cidades estão perdendo o único banco que tinham. Os clientes precisam se deslocar por longas distâncias até a agência mais próxima”, diz o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga. “Quando a encontram, precisam enfrentar longas filas. Tudo isso em plena pandemia, quando todos os sanitaristas indicam evitar aglomerações. E não me venham falar que o processo de digitalização substitui o atendimento presencial. Esta pandemia serviu, também, para mostrar que os bancos querem forçar um processo de digitalização para reduzir seus custos, mas a maioria dos brasileiros, mais do que preferir, precisam do atendimento presencial”, afirma.

“Os bancos dizem estar investindo em ferramentas de atendimento eletrônico, pela internet”, observa Mario Raia. “Mas a pandemia nos mostrou que esta não é a realidade do país. Isso porque muita gente não apenas prefere como, sim, precisa do atendimento presencial”, reforça o dirigente. “O resultado disso é o descumprimento da função que está estipulada na lei que regulamenta o sistema financeiro, que determina que os bancos devem garantir o atendimento e a oferta de serviços bancários para todos e em todo o país.” (Fonte: RBA)

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