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É HORA DE SE PREVENIR!

Sem pânico, mas com muito cuidado
A pandemia do novo coronavírus (que causa a covid-19) já provocou mais de 3.000 mortes na China (onde começou) e rapidamente se espalhou pelo mundo. No Brasil, o vírus circula entre a população e há casos de transmissão comunitária (quando não se sabe a origem da contaminação) em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Segundo o Ministério da Saúde, se cuidados básicos para conter o vírus não forem tomados, o número de infectados pode dobrar em apenas três dias. Como ocorreu na Itália, o grande avanço da doença tem potencial de gerar um colapso no sistema de saúde, prejudicando o atendimento e colocando em risco a vida de pacientes com outros problemas —que sofreram acidentes de trânsito a infartos, por exemplo.

No entanto, especialistas dizem que não há motivo para pânico, pois o vírus tem baixa letalidade (cerca de 3,4%) e grau de contágio moderado. O momento é de aumentar os cuidados com a prevenção. Isso vale para todos… Não é porque você está fora dos grupos de risco (idosos, pessoas com diabetes e problemas cardiovasculares, por exemplo) que não deve ficar atento. Ao se proteger, você evita que o problema avance e protege todos ao seu redor.

Então, evite frequentar lugares aglomerados ou por onde passam muitas pessoas (metrô, shopping etc.) Se puder, prefira ficar e trabalhar em casa. Ao se expôr desnecessariamente, você corre risco de ficar doente. E mesmo que tenha apenas sintomas leves da covid-19 (ou nem tenha sintomas), estará sujeito a transmiti-la a quem pode apresentar problemas graves, colocando um número maior de vidas em perigo.

Repetimos: não é momento de pânico. Toque sua vida normalmente, tomando sempre os cuidados de prevenção a seguir.

Se você puder, fique em casa
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, declarou que não há regra de prevenção única para todo o país. Mas cuidados básicos devem ser tomados para impedir o avanço do coronavírus. Além de lavar as mãos, cobrir a boca ao tossir ou espirrar e isolar pacientes com covid-19 por até 14 dias, o Ministério já recomenda a redução do contato social (evitar aglomerações, por exemplo) a pessoas sem sintomas.

Alguns especialistas até defendem que é hora de adotar o isolamento para quem tem a opção de ficar em casa. É o caso do virologista e professor no Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo) Paolo Zanotto, que declarou em um artigo publicado na quinta-feira (12) na Folha de S. Paulo que é “prudente assumir um risco elevado” o quanto antes. Para evitar um número grande de mortos pelo vírus, ele sugere um regime de isolamento amplo, ou seja, que escolas sejam fechadas e que pessoas trabalhem de casa e evitem sair na rua.

Segundo Zanotto, intervenções como essa antes do crescimento exponencial da doença foram responsáveis pelo comportamento ascendente moderado da covid-19 em Singapura, Japão e Hong Kong. Além disso, a medida impediu a saturação do sistema hospitalar.

O epidemiologista Alexandre Kalache, que dirigiu o programa de envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde), declarou em entrevista ao VivaBem que é preciso ter bom senso e fazer o possível para se proteger e também cuidar dos idosos (que sofrem mais com a doença):

Não está na hora de viajar, de ir ao teatro. Está na hora de evitar aglomerações. Temos que ter cuidado para não espalhar uma infecção grave como essa a pessoas mais suscetíveis”

Alexandre Kalache, epidemiologista

Nancy Bellei, professora e médica infectologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), concorda que, se todos ficarem dentro de casa, a epidemia não vai avançar. Porém, ela questiona se medidas do tipo são factíveis. “Conseguimos ter aulas online para quem estuda na rede pública? É uma doença social. Qualquer atitude tem impacto no comportamento das outras pessoas. Elas precisam trabalhar, deixar filhos na escola. Como uma mãe ou um pai que trabalha vai continuar empregada se tiver que cuidar do filho em casa?”

A infectologista, no entanto, diz que, se o escritório recomenda que os funcionários fiquem em casa ou se a escola entrou em um acordo com os pais, tudo bem. Mas não é possível mandar que a população toda faça isso por conta própria.

Já Fernanda Maffei, infectologista da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Samaritano, diz que, neste momento, não há nenhuma recomendação que prove que o isolamento só de parte da população dará resultado.

Tem que ser uma ação conjunta. Ou fecha tudo e todos param ou mantém as atividades com parcimônia”

Fernanda Maffei, infectologista

Segundo Maffei, manter apenas parte da sociedade (talvez a que tenha maior poder aquisitivo e que tem a possibilidade de fazer home-office) em casa não resolve do ponto de vista de política pública.

“Acho que todo mundo deveria seguir uma diretriz conjunta do ministério. As pessoas deixam de ir à escola ou faculdade e vão ao cinema. Não faz sentido.”

Nada de missa, shopping, jogo de futebol: por que evitar aglomerações
Em reunião com autoridades de saúde dos estados, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, afirmou que, com o início do outono na próxima semana, o vírus pode se espalhar com maior facilidade, principalmente pela aglomeração de pessoas em locais fechados, sem ventilação.

Por esse motivo, o Ministério da Saúde recomenda o cancelamento ou adiamento de grandes eventos esportivos, artísticos, comerciais ou religiosos. Caso não seja possível adiar, a recomendação é que o evento ocorra sem público.

No dia a dia, os especialistas afirmam que alguns cuidados devem ser tomados. Bellei, por exemplo, diz que indivíduos que estiverem com sintoma respiratório (tosse ou espirro), mesmo sem o diagnóstico de coronavírus, devem evitar cinema, shopping. “Você precisa ir ver loja agora? Não precisa”, diz. Se não tiver como, os sintomáticos devem sair com máscara. Além disso, a infectologista pede que principalmente os idosos evitem supermercados em horário de pico e missas.

Vai faltar teste, tem que entender isso. Quanto mais pudermos evitar espalhar a doença para o outro, melhor”

Fernanda Maffei, infectologista

Maffei lembra que, sempre que houver um vírus de via respiratória circulando, é preciso evitar lugares fechados e com muita gente por perto, pois isso aumenta o risco de contaminação. Ao frequentar restaurantes, baladas e bares, o ideal é manter uma distância um pouco maior de outras pessoas e sempre procurar ficar em locais que tenham muita ventilação. Além disso, procure passar álcool em gel ou lavar as mãos por pelo menos 20 segundos, não compartilhar copos e talheres e não colocar as mãos não lavadas em olhos, nariz e boca —”portas” de entrada do coronavírus no organismo.

Precisamos tirar as crianças da escola?
Os governos de São Paulo e Rio de Janeiro suspenderam as aulas nas escolas da rede pública e particular a partir de segunda-feira (16) —em São Paulo isso acontecerá de forma gradual e a suspensão completa será no dia 23. De acordo com Marco Aurélio Safadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), em outros países essa medida contribuiu para o achatamento da curva da evolução da doença, e diminuiu a proliferação.

“A convivência entre as crianças faz com que o vírus se prolifere, as escolas fechadas evitam isso. É um momento oportuno para que isso ocorra no Brasil”, diz. Entretanto, não é uma medida indicada para todo o país, pelo menos agora. “O ponto de virada é a transmissão comunitária. Nas cidades em que isso já ocorreu [São Paulo e Rio, até o momento], o fechamento de tudo traz uma perspectiva, e não só das escolas. Aí, sim, as pessoas precisam ficar em casa.”

Safadi diz que, no caso das crianças, há uma peculiaridade: a doença evolui de forma bem mais leve e com poucos sintomas, praticamente isenta de manifestação. Por isso, os pais devem ficar calmos e explicar aos pequenos que, mesmo que fiquem gripados, vai passar.

A infectologista Maffei sugere que, em casa, os pais mantenham sempre uma conversa sobre os hábitos de higiene com as crianças, e não só em momentos como este. “Eles devem explicar que, se ela estiver doente, é bom não ir à escola, à casa do vovô, e que deve lavar as mãos com água e sabão frequentemente. Mas nunca ‘noiar’ a criança e pendurar álcool gel nela. Tem que ser mais lúdico e menos paranoico.” A médica ainda recomenda que não tranquem as crianças em casa, apenas evite locais fechados. “Opte por lugares abertos, faça festinha em ambientes arejados, como parques.”

Estou com sintomas, o que fazer?
Tosse, febre e dor no corpo são sinais da covid-19
Muita gente tem se perguntando: qual é o momento certo de ir ao hospital? Como sei se é um simples resfriado, uma gripe ou fui, de fato, infectado pelo coronavírus? “Se todo mundo entender que tosse e febre é caso de pronto-socorro, não há sistema de saúde que aguente”, afirma David Uip, infectologista que coordena a resposta ao coronavírus em São Paulo.

A orientação para procurar uma unidade de saúde é que a pessoa precisa apresentar febre em conjunto com outros sintomas, como tosse ou falta de ar.

Se houver apenas um sintoma leve, como coriza, o ideal é que as pessoas liguem para o número 136 para receber orientações. A medida faz parte de um conjunto de medidas não farmacológicas propostas pelo Ministério da Saúde aos estados para diminuir a transmissão do novo coronavírus.

Na dúvida, a tecnologia —como o uso de apps e robôs no Whatsapp — pode ajudar você a fazer uma autoavaliação e evitar idas desnecessárias aos hospitais — o que acaba lotando as instalações e aumentando o risco de contrair diferentes vírus.

Isolamento: como preservar a saúde física e mental
O ser humano é uma “criatura” social. Ficar isolado pode ser bastante complicado e agravar a ansiedade e o estresse que naturalmente surgem em momentos como esse. Portanto, uma vez que você decida se isolar, é importante criar uma rotina para manter o corpo e a mente protegidos.

“O isolamento é mais um estressor. Então, sempre que possível, tente manter os vínculos ativos”, afirma o psiquiatra Rodrigo Leite, coordenador dos Ambulatórios do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP (Universidade de São Paulo). As redes sociais podem ajudar nessa tarefa, fazendo com que as pessoas consigam interagir sem estar fisicamente presentes.

Vale também criar uma rotina de atividades para manter a cabeça ocupada e evitar pensamentos negativos ou alarmistas. Além do trabalho, é possível incluir na agenda tarefas que você sempre quis fazer, mas não tem tempo, como ler um livro, ver filmes, cozinhar.

Se o volume de informações estiver muito grande e a angústia crescer, busque suporte emocional da rede de apoio social, ou seja, na família e nos amigos. “São essas conexões que vão reduzir o sofrimento psicológico desse momento tão duro”, diz o médico.

E lembre-se que sempre que precisar você pode sair à rua sem medo. Só tome os cuidados básicos que já mostramos: evitar aglomerações, lavar as mãos, usar álcool em gel —os dois últimos principalmente, assim que voltar para casa. Quando receber visitas, mesmo que sejam membros da família, procure limitar o número de pessoas dentro de casa e evite interações como apertar as mãos, abraçar ou beijar.

Idosos merecem atenção especial
Os idosos são a população de maior risco, não pelo número de pessoas acometidas, mas devido às complicações. Segundo a OMS, a letalidade da covid-19 em adultos fica entre 2% e 3%. Essa taxa sobe para 3,6% em pessoas com 60 a 69 anos; 8% para pacientes com 70 a 79 anos; e 15% para os com mais de 80 anos, de acordo com um estudo do Centro de Controle de Doenças da China.

Maísa Kairalla, presidente da Comissão de Imunização da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), explica que a melhor forma de evitar a piora na saúde dos idosos é o diagnóstico precoce. Além disso, adultos e crianças, mesmo que não apresentem sintomas de doença respiratória, devem diminuir o contato com quem tem mais de 60 anos, para não levar o vírus até o idoso.

“Em toda curva de infecção é assim: crianças e idosos devem ser protegidos. No entanto, ao contrário das outras doenças, com a covid-19 muitas crianças se apresentam assintomáticas. Então, como nem sempre sabemos se elas têm o vírus ou não, e melhor que os pequenos não entrem em contato com a população de risco”, diz Kairalla.

No caso de idosos que precisam de algum cuidador ou de recursos terapêuticos externos, como fisioterapia, a especialista não recomenda que se encerre o tratamento. “É como se pedíssemos às casas de repouso para pararem de funcionar, ou os hospitais”, compara. Quem deve tomar cuidado são os próprios cuidadores. “Se estiver com algum sintoma ou receber o diagnóstico de contaminação, não vá até a casa do idoso. Recomendamos que chame outra pessoa para fazer o trabalho”, diz.

Os cuidadores devem manter os cuidados gerais de higienização, lavando as mãos com água e sabão sempre que chegar da rua, evitar tocar olhos, boca e nariz com as mãos sujas.

Por que pessoas com diabetes, asma e doenças cardíacas estão no grupo de risco

Além dos idosos, pacientes com doenças mais debilitantes e fumantes têm menor capacidade de frear o vírus, devido a um comprometimento da resposta imune, diz Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Laboratório de Genética e Imunologia das Infecções Virais. Isso aumenta a possibilidade de a intensidade da replicação viral deflagrar uma lesão pulmonar, o que vai agravar o quadro do paciente com covid-19.

Então, é importante que essas pessoas estejam com a imunidade em dia (uma boa alimentação ajuda nisso), além de usarem álcool em gel e lavarem as mãos frequentemente. Abaixo, explicamos por que alguns grupos estão mais vulneráveis à doença.

  • Hipertensos

Pacientes com problemas cardiovasculares estão mais expostos ao problema pois algumas substâncias que o corpo produz para combater o coronavírus podem deixar o coração mais fraco. Segundo Bruno Valdigem, do Instituto Dante Pazzanese e do Hospital Vila Nova Star (Rede D’or/ São Luiz), o vírus ainda pode afetar o músculo cardíaco, caso o coração já esteja sobrecarregado, e causar inflamação no miocárdio. Além disso, eleva o risco de arritmias e parada cardíaca.

  • Asmáticos

A asma é uma doença que provoca deficiência respiratória e deixa os pulmões mais sensíveis, favorecendo o aumento da falta de ar e secreção nos pulmões. Segundo Renato Grinbbal, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o vírus eleva os sintomas respiratórios, além de contribuir para o aumento de crises de asma. Por causa disso, o paciente fica extremamente debilitado e com mais sintomas do quadro respiratório.

  • Diabéticos

O diabetes é um fator de risco para várias infecções. João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que a doença mexe com o sistema de defesa do paciente e, por isso, ele fica mais suscetível a pegar coronavírus e desenvolver a covid-19.

  • Fumantes

Os tabagistas já possuem a capacidade pulmonar prejudicada pela exposição a substâncias nocivas do cigarro, o que favorece o aumento de doenças como enfisema pulmonar e bronquite. Como o pulmão já está debilitado, o risco de desenvolver a covid-19 é bem maior. (Fonte: UOL)